Farinha de mandioca da Amazônia: produção artesanal e floresta em pé
No Amazonas, produção de farinha de mandioca é símbolo da identidade cultural e fonte de renda para as famílias
A farinha de mandioca é uma paixão nacional. Mas, para quem mora na Amazônia, ela é mais do que um alimento: é um símbolo da identidade cultural. A produção é feita de maneira artesanal, em pequenas propriedades familiares e sem agrotóxicos.
Dá para sentir o cheiro da farinha sendo torrada só de se aproximar da propriedade de Ronaldo Albuquerque, na zona rural de Lábrea, no Sul do Amazonas. Na casa de farinha do Ronaldo, a produção é garantia do sustento de 20 pessoas, que se revezam todos os dias na atividade.
“Rapaz, nós nos criamos dentro da roça. Desde novinho que nós já trabalhamos na agricultura. O nosso pai desde novo já trabalhava na agricultura”, destaca o produtor.
O processo começa no plantio da mandioca-brava, uma variedade que tem toxinas perigosas. Elas serão neutralizadas somente ao longo do preparo. Depois de um ano embaixo da terra, a mandioca está pronta para a colheita, depois de ter crescido em meio à vegetação.
Com um terço na mão, dona Sueli abre caminho até chegar à mandioca. Em seguida, é hora de descascar e limpar bem, para tirar todas as impurezas que podem interferir na qualidade final.
Limpa, a mandioca é deixada para fermentar por três dias coberta por água. E um dos segredos para uma farinha boa é justamente a qualidade dessa água. Como no local não chega água encanada, o abastecimento com poços artesianos é fundamental.
“Se colocar, por exemplo, numa água barrenta, ela não vai dar boa. Vai dar uma farinha suja. Se você colocar ela numa água limpinha, lavadinha a mandioca, ela vai dar uma farinha de primeira”, explica Albuquerque.
Já bem amolecida, a mandioca é ralada e vai para uma prensa. O líquido que escorre ajuda a eliminar as toxinas naturais da planta e torná-la apta para o consumo.
Na etapa final, a mandioca ralada é torrada e começa a ganhar aparência do produto final. Aí entra em cena a habilidade do torrador, que não pode deixar a farinha queimar, mesmo com o fogaréu bem intenso. Para ficar bem fininha, a farinha é peneirada e depois volta pro fogo.
Ronaldo Albuquerque compartilha alguns dos segredos para deixar a farinha bem ao gosto dos amazonenses.
“Essa amarela o cara tem que torrar; quando ela estiver meio molhadinha, bem amarelinha, aí a gente traz para escaldar. E também tem que ver o fogo. Se ficar fogo demais, ela embola, aí não fica nada que preste”, ensina o produtor.
A farinha feita assim serve de alimento e renda para muitas comunidades ribeirinhas e indígenas, moradores de unidades de conservação que ajudam a manter a floresta em pé.
“O mais importante é que a gente faz o que gosta, e os outros gostam, que é o mais importante”, finaliza.
Edição: Douglas Matos
Fonte: Brasil de Fato
Aki1: Magali Freitas